“O amor, Pois que é a palavra essencial” disse o saudosissimo poeta Carlos Drumond de Andrade[1]: “Amo a história. E é por isso que estou feliz por vos falar, hoje, daquilo que amo”, essas foram as palavras de Lucien Febvre, na obra Combates pela História [2].
A razão, oposto da imaginação: “se olharmos a história racionalmente, ela nos olhará racionalmente de volta”, é o que propôs Georg Wilhelm Friedrich Hegel [3]. O que move a história da humanidade? Seriam os grandes homens? Lideres movidos por sua ganância e amor desmedido pelas ideologias. Seriam as revoluções? Que marcaram a ferro, forro e sangue o caminho da humanidade. Seria o destino ou o acaso? Seria as religiões ou a ciência? Em fim, não há como parar: mesmo sentando e dizendo “não dá mais”, há uma força invisível que move a história da humanidade.
“Leissez faire, laissez passer” [4] (“dixe fazer, deixe passar”) conseguiram assim se encontrar na síntese, atribuída a Vincent de Gouney, os homens do livre mercado. “Vender e vender”, seria a arte que faz o mundo mover? Mas essa não é uma força significativa para a concepção de mundo de todos os homens, mesmo estando eles imbuídos de mercados.
Pergunte então: como a vida começou? Para a religião: Deus “o criador de céu e da terra”, “de todas as coisas visíveis e invisíveis” [5]. Galileu Galilei ousou dizer que a terra não era o centro do universo e que não era o sol que girava ao redor da terra, mas sim a terra que girava ao redor do sol [6]. Aos gurus das várias ciências, sobram-lhes incontáveis dúvidas.
O Tiradentes que se indagava como seria um Brasil independente? Restou-lhe a forca. Seria possível o homem voar livre como um pássaro? E então Alberto Santos Dumont inventou o avião. E quando criança a gente se pergunta como é possível um monte de ferro fundido e chapeado voar?
Os gregos, dos quatro cantos da Grécia, se perguntavam se a democracia ateniense, filha de Clístenes [7], seria o tipo ideal de governo? E se “liberté, egalité e fraternité” [8] poderiam libertar a França? E o tempo passa, de forma a consumir os vestígios, corroer as edificações e, percebemos que tudo já dito acima esta tão presente em nós que nos perguntamos: Como? Por quê?
Pois, então, não são as respostas que movem a história, porque elas existem aos montes. Mas sim os questionamentos: é a sede por respostas imbuídas de um sentimento desmedido, chamado pelos homens de amor – palavra que carrega consigo incontáveis significados – que alimenta o motor da história. Deste modo, portanto, em uma profunda contradição paradigmática [9], buscamos a razão como a forma de se chegar à verdade – seria então a ciência a maior substituta da religião? O fato é que, sedentos por respostas e movidos pelo amor buscamos a verdade. Essa loca engrenagem é, portanto, a que move a história.
[1] ANDRADE, Carlos Drumond de. poema de abertura do livro “O Amor natural”.
[2] FEBVRE, Lucien Paul Victor. Combates pela história. 3. ed Lisboa: Presença, 1989. 262 p.
[3] Hegel: citado por Michael Inwood no Dicionário Hegel, pg.187.
[4] KEYNES, John Maynard. The End of Laisses-faire. London: Hogarth Press, 1926.
[5] A profissão de fé do IV Concílio de Latrão (1 de novembro de 1215) afirma que Deus “criou conjuntamente, do nada, desde o início do tempo, ambas as criaturas, a espiritual e a corporal, isto é, os anjos e o mundo terrestre; em seguida, a criatura humana que tem algo de ambas por compor-se de espírito e de corpo" (DS 3002). Disponível em: http://www.comshalom.org/formacao/exibir.php?form_id=1203. Acesso em 14/07/09.
[6] Teoria Heliocêntrica (século XVI), modelo de Copérnico, em oposição a teoria Geocêntrica na qual a terra era o centro do universo e que o sol gira a seu redor. Disponível em: http://educar.sc.usp.br/fisica/movgrav.html. Acesso em 14/07/09.
[7] Clístenes (~ 560 - 508 a. C.) Filósofo, político e legislador grego de Atenas, cujas reformas políticas contribuíram para despertar o sentimento de cidadania em contraposição à solidariedade dos membros do clã e é considerado o fundador da democracia ateniense.
[8] Liberdade, igualdade e fraternidade: lemas da Revolução Francesa de 1789.
[9] Paradigma (do grego Parádeigma) representa, de forma mais ampla e forte, os conteúdos de uma visão de mundo. Pode ser também usada para designar um pensamento, um modo de pensar, um modelo a ser seguido.
NettoPaes
Há uma semana
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